Sé de Angra

A 3 de Novembro 1534, pela bula Aequum reputamus, Paulo III, criou um bispado “na Igreja de São Salvador da Cidade de Angra”, localização que seria confirmada por D. João III, na carta régia de 11 de Outubro de 1535, em que dá conta de ter “suplicado” a Clemente VII “que criasse, e levantasse por igreja Catedral a Igreja de São Salvador das Ilhas Terceiras na parte que se chama Angra, e que lhe desse por Diocese todas as outras ilhas, que se chamam as Terceiras, como nas letras da sua criação se declara.” (P.e Manuel Luís Maldonado, Fénix Angrense).
Em breve se percebeu que a Igreja existente era demasiado modesta para essa função e, em 1536, o Bispo, coadjuvado pela Câmara da nove1 Cidade, tratou de lembrar ao Rei a necessidade de cumprir o seu compromisso de instalar a sede da Diocese. Mas, D. João III cuidou antes de outros aspectos organizativos, o que levou a Câmara da Cidade, em 1557, a renovar o pedido da construção do novo templo, adiantando, contudo, que os vizinhos de Angra não estavam em condições de contribuir para esse fim.
Santíssimo Salvador do Mundo (Padroeiro da Sé)
Finalmente, em 1568, no reinado do Cardeal D. Henrique, a coroa tomou a decisão de mandar construir a nova Sé a expensas próprias, a isso destinando 3 mil cruzados anuais dos direitos do pastel na Ilha de S. Miguel enquanto durassem as obras.
Interior da Igreja da Sé: Altar
Do reino veio um arquitecto, Luís Gonçalves, que elaborou o projecto, depois sucessivamente adaptado, designadamente por João de Carvalho.
Igreja da Sé: Perspectiva do Interior
Em 1570, lançou-se a primeira pedra, mas a construção, de proporções enormes para tão pequeno burgo, prolongar-se-ia por 48 anos, com pelo menos um período de interrupção nos finais do séc. XVI, durante a crise dinástica.
Sé: Perspectiva do Interior (Foto: Mike Maciel)
 A decisão foi no sentido de se construir um novo templo no mesmo sítio da já existente e pequena Sé, mas alargando muitíssimo o espaço, que acabou por ocupar um grande quarteirão central, delimitado pelas ruas da Sé, Carreira dos Cavalos, da Rosa e do Salinas. Muito deste terreno foi doado pelo nobre angrense Estevão Cerveira Borges, que condicionou a doação a ter a frente da Sé voltada para a sua residência. Por isso, ou por uma questão de urbanismo, a nova Igreja ficou virada ao Norte, com inegável valorização.
Altar Mór da Sé Catedral de Angra do Heroísmo
É uma Igreja ampla de 3 naves divididas por pilares sem transepto, mas de cobertura única. Inscrita num revivalismo gótico, a cabeceira, com deambulatório, 3 capelas radiantes e uma abside coberta por uma cúpula suportada por colunas dóricas, resulta acanhada e um tanto desproporcionada relativamente ao corpo do templo.
Frontal de Prata do Altar do Santíssimo Sacramento
A fachada, por sua vez, tem duas torres sineiras e entre elas um templete para o relógio, colocado em 1782; embora o conjunto acabe por mostrar-se monótono, é inegável a sua imponência, sublinhada pela bem conseguida implantação no terreno. Adossadas ao corpo da Igreja, foram construídas quatro capelas, pagas por particulares e pelas irmandades, e as sacristias. Já no século XVIII nas traseiras, adicionou-se-lhe a Sacristia Grande e a Sala do Tribunal Eclesiástico.
Sacristia: Móvel de jacarandá
Em redor de toda a construção existiu sempre um amplo adro, que muito contribui para a beleza do conjunto.
Sacristia: Móvel de jacarandá
Esse adro, com escadaria para a Rua da Sé, foi melhorado em 1845, na frente virada para a Rua do Salinas.
Atril de jacarandá e marfim
Na traseira do edifício, no início do séc. XVII, foi construído um claustro, conhecido pelo sítio, que serviu no séc. XIX de cemitério, mas que desapareceu nos anos 50 do séc. XX para dar lugar ao arranjo hoje existente no lado virado à Rua da Rosa. No mesmo adro, uma estátua do Papa João Paulo II comemora a visita do Pontífice à Catedral, a 11 de Maio de 1991.
Apresentação do Menino Jesus no Templo (Mestres da Sé)
O edifício da Sé foi profundamente danificado pelo sismo de 1 de Janeiro de 1980 e posteriormente destruído por um incêndio na madrugada de 25 de Setembro de 1983. Nessas duas catástrofes perdeu-se um enorme espólio artístico, principalmente de decoração barroca; sem embargo, o templo reedificado conserva os atributos da sua dignidade e continua a ser o ápice da vivência religiosa dos Açores e um importante centro cívico da cidade de Angra do Heroísmo. Os seus sinos e o seu relógio marcam a vida dos angrenses e o seu adro é, com a Praça Velha, o palco de tudo o que acontece na urbe.
Expulsão dos Vendilhões do Templo (Mestres da Sé)
Em reconhecimento de tudo isto, o Governo Regional dos Açores classificou a Catedral de São Salvador de Angra, como Monumento Regional, em 11 de Junho de 1980.